Em reunião das Comissões do Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB, o Daniel Seidel desenvolveu uma reflexão sobre o momento histórico em que estamos vivendo. Nesta, ele procura mostrar a organização que se está constituindo na direita do espectro político brasileiro (mas também estamos sentindo no mundo todo) que, principalmente usando as redes sociais, causam transtornos consideráveis àqueles e àquelas que buscam uma transformação da sociedade a partir do pobre, do excluído.
Por: Carlos Signorelli
A tese é sempre a mesma: os que agem em favor dos pobres, dos injustiçados, dos excluídos são comunistas infiltrados na Igreja, buscando construir condições de colocar o comunismo no poder. Assim, padres são considerados comunistas até por suas homilias, e, agora, a própria CNBB é defenestrada, colocada no lixo das inconsequências.
Um sujeito conhecido, que, ao que dizem, tem milhares de seguidores no youtube, tem se destacado por suas críticas e aleivosias com relação à CNBB, e é apoiado pelos seguidores! Cada um, é nossa posição, pode e deve expressar-se. Outros podem segui-lo. Não desejamos entrar em disputas ideológicas ou procurar reduzir seus argumentos a falácias. Longe disso.
Gostaríamos de, a partir do próprio Jesus de Nazaré, Deus que se Encarna em nossa pobreza humana, que faz opção pelo pobre, pelo que sofre, pelo que não é atendido e até expulso daquela sociedade de “santos”. O Deus que se faz homem faz também opção por um tipo de humano: aquele que tem sua humanidade vilipendiada. Assim o fazemos nós, alguns de nós, que, pelo Batismo, somo e devemos ser testemunhas daquela humanidade que tão humana é também divina.
Mas temos, também, que olhar o momento histórico em que vivemos, no qual vemos o predomínio absoluto do capital financeiro, em detrimento do capital produtivo. Algumas dezenas de bilionários e bilionárias que, tendo uma riqueza igual a todo o restante da humanidade, vivem nababescamente com aquilo que, por justiça, deveria pertencer a todos e todas. Afinal, sua riqueza vem da força de trabalho dos pobres e oprimidos. O Estado passou a ser sua propriedade: o Poder Executivo só age em função de seu querer. Veja-se o agir do “governo” brasileiro depois do golpe de abril de 2016 e suas propostas constitucionais que acabaram com a educação pública, como SUS e, se esperarem mais um pouco, acabarão com a previdência. Veja o agir do Poder Judiciário, que tem se mostrado o mais corrupto de todos, partidarizado, ganhando mordomias tidas até por juristas mais à direita como verdadeiros saques aos cofres públicos. E, por fim, veja-se o que ainda continua se chamando Poder Legislativo que, praticamente, não é poder a não ser para receber os benefícios da corrupção que, vindo do capital financeiro e do poder executivo, votam o que os latifundiários querem, o que os banqueiros querem, o que o capital financeiro exige.
Tudo isto sem querer lembrar muito daquela tarde do mês de abril de 2016, no Congresso Nacional, onde deputados e senadores jogavam confetes e serpentinas, jogavam-se nos colos um dos outros, e ainda votavam “por minha mãe”, “por Deus”, e por outras coisas mais. Envergonhou-nos tanto aquilo que, nos meios de comunicação de fora do Brasil, aquilo foi considerado uma vergonha. E foi uma vergonha, o que fez com que alguns de nós quiséssemos abandonar a cidadania.
Assim, ser Igreja e ser cristão nesse momento histórico é buscar a verdade, é buscar o bem do menor, é buscar vida para o pobre, é buscar um Estado mais democrático e menos corrupto (como é considerado no mundo todo, para nossa vergonha).
Desta forma, os bispos brasileiros, que não são petistas como apregoam os que veem petistas em todo lugar, também estão envergonhados e também sentem que muita coisa precisa ser mudada. Sentem que o pobre, razão de nossa existência como Igreja tem que ser respeitado e cujas políticas públicas têm que lhes dar condições de vida digna.
É por isso que se manifestam, é por isso que discutem em suas assembleias, das quais participei durante 6 anos por ser presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil.
Os nossos bispos têm que ser lembrados e respeitados pelos católicos brasileiros. Estão entre os mais atuantes e mais críticos da pobreza e do sofrimento dos pobres e excluídos.
E nós, do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, estamos com eles.
Carlos Francisco SignorelliComissão de Assessoria Permanente do CNLB